Quando o assunto é audiovisual, Teresina tem muita história pra mostrar, em curtas ou longas metragens. Durante a década de 70 uma “turma” produzia um cinema com cara de Piauí, inspirado em influencias de fora, claro, mas com personalidade própria. Descacam-se desta época Torquato Neto e Durvalino Couto Filho, isto só para citarmos apenas dois “criadores” da época. O tempo passou e essa produção diminuiu por um tempo, sem nunca deixar de existir. Alguns meios de se manter uma produção razoável e incentivar os amantes de cinema a criarem seus próprios filmes continuavam a acontecer, como por exemplo, a Associação Brasileira de Documentaristas, que existe no Piauí desde 2002, além de alguns grupos de produtores de vídeo nas décadas anteriores. Movimentos para dinamizar o cinema local sempre foram a sensação da juventude mais “moderninha” e criativa de Teresina.
Em 2006, surgiu uma maneira diferente de dinamizar essa produção e, principalmente a difusão de audiovisual piauiense, o Coletivo Diagonal. Composto inicialmente por Aristides Oliveira e Meire Fernandes e que este ano ganhou a companhia de Roniel Sampaio. Eles se reuniram a partir de um interesse que começou na paixão pela fotografia e pelo audiovisual, amor e prática que os levaram a pesquisas acadêmicas, no núcleo de pesquisas da Universidade Federal do Piauí, o grupo de trabalho: história, cultura e subjetividade, coordenado pelo professor Dr. Edwar Castelo Branco e o NUPEAC – Núcleo de pesquisa da arte e Cultura do Piauí, coordenado pela professora Dra. Zozilena Froz.
Daí o coletivo já é responsável por várias mostras de vídeo realizadas em Teresina, como a Mostra Diagonal, Mostra de Cinema Marginal, Mostra de Cinema Marginal, Mostra Glauber Rocha, Mostra Zé do Caixão e Mostra Arnaldo Jabor, além de parcerias já estabelecidas com o Festival Nacional do Minuto, que nasceu em São Paulo e a Associação Vídeo Brasil, o que já rendeu à capital do estado exibições de vídeos internacionais, como a Itinerância Vídeo Brasil. “Trazer estas mostras para Teresina significa inserir a cidade no circuito nacional e até mundial de cinema e vídeo”, diz Aristides Oliveira.
E com isso o público só tem a ganhar, assistindo a vídeos que estão fora do circuito tradicional, ver o que está acontecendo pelo mundo do audiovisual e as novas tecnologias que estão sendo aplicadas na criação de vídeos e assistindo aos clássicos do cinema marginal. O coletivo diagonal, não se conforma em apenas trazer exibições para Teresina, eles promovem discussões sobre a criação de vídeos. “Não nos deixa satisfeitos apenas produzir vídeos, eles devem ser assistidos, problematizados. Por saber que temos um potencial criativo valioso nas várias linguagens cinematográficas, não queremos que a criatividade seja engavetada, devemos fazer as obras circularem em vários espaços, pois lançar um filme e nunca mais vê-lo é uma atitude que limita o circuito”, explica Aristides Oliveira, que diz isto com a intenção de incentivar a produção local.
Mas, esta também é a explicação para trabalharem como coletivo, uma forma de organização que amplia o valor e o tamanho dos trabalhos realizados e projetos que ainda estão por vir. Além de dar mais força a representatividade que eles pretendem no cenário do vídeo no Piauí, como se implicasse mais credibilidade frente aos grandes festivais ou mostras que circulam pelo Brasil a fim de revelar as produções audiovisuais do país e de outras partes do mundo. Esta credibilidade e representatividade que eles precisam também pra conseguir apoio para trazer essas mostras para o estado e, assim, incentivar a produção local, “O Piauí é um lugar que recebe pouco apoio nesse sentido, e trabalhar coletivamente para incentivar nossa produção é o meio mais urgente de fazer acontecer, não podemos esperar”, confirma Aristides.
É com esta pressa em ver acontecer que eles já se preparam para realizar a segunda mostra diagonal. De caráter não competitivo a mostra procura mapear as obras produzidas no eixo nacional, incentivando os produtores locais a exibir seus vídeos e manter um dialogo aberto com o cenário do vídeo artístico brasileiro. Com a divulgação através da internet o coletivo espera grande participação de produtores de outros estados, como na primeira mostra diagonal, que teve a maioria dos vídeos vindos de fora. A mostra acontece em novembro. “A intenção da mostra diagonal é criar novos espaços para a discussão, exibição e divulgação do material produzido através da linguagem audiovisual aqui em Teresina e traçar retas paralelas e transversais com as produções nacionais”, conta Meire Fernandes.
Esta é apenas uma das atividades do coletivo que colabora como principal objetivo destes jovens que não querem apenas produzir seus próprios vídeos, mas também, incentivar quem faz, ou quem apenas gosta de assistir e valorizar a sétima arte a comparecer aos eventos e assim, sendo platéia, crítica e exigente, claro, incentivar o aprimoramento da produção audiovisual no estado, e logo, no Brasil. “Nosso objetivo é formar platéia sólida a longo prazo, desaprender o ato de ver cinema, gerar debates, desmitificar o experimentalismo, friccionar uma nova possibilidade em Teresina na cultura audiovisual, incentivar nossos produtores a exibir mais suas criações”, diz Aristides.
Ao ver o trabalho realizado pelo coletivo, um dos primeiros produtores a passear por Teresina com um roteiro na cabeça e uma super 8 no ombro, Durvalino Couto, que fez parte da geração de 70, e participou de filmes com Torquato Neto, como o “Terror na Vermelha”, avalia que estes jovens podem garantir o futuro do audiovisual no Piauí: “quem sabe assim a produção de vídeos no Piauí pare de pular gerações e se torne continua, permanente”, diz esperançoso e confiante o publicitário e documentarista Durvalino Couto Filho.
*escrevi este texto há algum tempo, mas tá valendo! rs
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